Da Escuridão à Luz: o valor dos processos na psique e no cérebro.

19 agosto, 2025

   

(Imagem: Foto tirada por mim no túnel que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo. No lado em que estou fica a cidade de Passa Quatro, em Minas; na luz do final do túnel, está a cidade de Cruzeiro, em São Paulo. Inaugurado por D. Pedro II, este túnel foi palco da batalha mais sangrenta da Revolução de 1932. Um lugar incrível, cheio de história e reflexões.)


Quando começamos um processo psicanalítico, é como entrar em um túnel pela primeira vez.
A luz está lá no final, mas não sabemos o caminho até a saída.

Na psicanálise, nada acontece de forma repentina. Freud já falava dos processos primário e secundário:
— o primeiro, guiado pelo desejo imediato, pelo sonho, pela pulsão que busca satisfação;
— o segundo, guiado pela razão, pela realidade, pelo adiamento e elaboração.

O sujeito só se transforma quando se permite atravessar esses processos internos, que se repetem, resistem, voltam e se reconstroem.

Na clínica, isso aparece de forma quase invisível: no silêncio de uma sessão, numa palavra que retorna, num sonho que se repete. É lento, é trabalhoso. E é justamente essa lentidão que dá consistência à mudança. O inconsciente não se apressa: ele se revela em fragmentos, em lapsos, em associações que parecem desconexas.

O processo analítico é, portanto, uma travessia: o túnel onde a escuridão assusta, mas é justamente ali que os olhos se acostumam e começam a enxergar.

A neurociência, por outro lado, nos mostra que o cérebro também vive de processos.
As sinapses não se reorganizam em um dia. É na repetição, na constância, no treino da fala e do pensamento que novas redes neurais se formam.

Cada memória reativada na análise passa por um fenômeno chamado reconsolidação: ela é reaberta, reprocessada e pode ser ressignificada. É como se o cérebro dissesse: “dado antigo, mas com atualização disponível”.

Aos poucos, o sistema límbico, que guarda as marcas emocionais, encontra novos caminhos de diálogo com o córtex pré-frontal, que organiza, nomeia e planeja.
Assim, a emoção antes bruta ganha contorno, palavra, sentido.

Psicanálise e neurociência se encontram justamente nesse ponto:

  • Uma fala analisada, repetida e elaborada abre espaço simbólico no inconsciente.

  • Essa mesma fala modifica circuitos neurais, fortalecendo novas rotas de pensamento e regulando emoções.

É por isso que, tanto na clínica quanto no cérebro, o processo é lei da vida.
Não é sobre atalhos. Não é sobre “resolver rápido”.
É sobre suportar o túnel escuro até que a luz surja adiante.

A mudança acontece a cada sessão, a cada passo, a cada respiro. Algo se reorganiza dentro e fora.
O inconsciente se desloca, o cérebro se reconecta, e o sujeito se reinventa.

No fim, tanto na psicanálise quanto na neurociência, o processo não é um detalhe: é o próprio caminho da transformação.
A luz no fim do túnel e a linha de chegada não são milagres: são a prova de que houve travessia, de que houve coragem, de que houve vida sustentada passo a passo.

Juliana Oliveira - Psicanalista e Neuropsicanalista.


Instagram: @juh.oliveirapsi

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Hiperconectados nas telas, mas cada vez mais desconectados das pessoas.

19 julho, 2025

     

Vivemos num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), que nos empurra para a compulsão por produtividade e ocupação. Ser multitarefa virou regra. A todo instante, somos chamados a responder mensagens rapidamente, a manter presença nas redes, a sermos ágeis em e-mails e entregas. Mas será que essa tecnologia que tanto nos conecta também não tem nos afastado do essencial?

Como neuropsicanalista, percebo a hiperconexão como uma sedutora ilusão de pertencimento. Ela oferece o conforto imediato da interação digital, enquanto esvazia nossa individualidade, empobrece os laços humanos e nos desconecta de nós mesmos. Por trás das telas, cresce o silêncio emocional  e com ele, o aumento de transtornos psíquicos, a solidão disfarçada de conexão e o afastamento das relações verdadeiramente nutritivas.

Estamos vivendo um desequilíbrio: de um lado, a nossa estrutura biológica e psíquica que é ancestral, sensível, relacional; de outro, um mundo que exige aceleração constante, presença digital e performance emocionalmente estéril. Será que essa conta vai fechar?

A ausência emocional parece ser a nova estética dos tempos modernos. Mas não fomos feitos para isso. Somos seres tribais, moldados pela convivência e pelas trocas humanas. Nosso cérebro possui neurônios-espelho, responsáveis pela empatia e pela aprendizagem emocional. Aprendemos a amar, a conviver e a sentir a partir do outro.

É preciso lembrar: sem vínculos, não há desenvolvimento saudável. Sem presença, não há cura.
Estamos diante de uma revolução silenciosa  e talvez o verdadeiro ato de resistência seja desacelerar, escutar, se olhar… e se permitir sentir.






 

Tripé da psicanálise!

11 abril, 2025

O tripé da psicanálise é a base da formação de um psicanalista. Ele se sustenta em três pilares essenciais:

  1. Análise Pessoal – O próprio analista deve passar por análise para compreender seus processos inconscientes e evitar que suas questões pessoais interfiram na escuta do paciente.

  2. Estudo Teórico – A formação exige o estudo aprofundado das obras de Freud e outros teóricos da psicanálise, além de leituras complementares sobre psicopatologia, filosofia e neurociência.

  3. Supervisão Clínica – O trabalho do analista em formação deve ser acompanhado por um psicanalista experiente, que orienta e ajuda a compreender as dinâmicas dos casos clínicos.

Esse tripé garante que o psicanalista esteja preparado tecnicamente e emocionalmente para atuar. 

 

Você sabe como nossas emoções atuam no nosso corpo?

8 fevereiro, 2025


     

   As emoções desempenham um papel crucial no funcionamento do corpo humano, influenciando diversos sistemas fisiológicos. A seguir,           apresento algumas maneiras pelas quais as emoções afetam o organismo.

   1. Sistema Nervoso Autônomo

     As emoções ativam o sistema nervoso autônomo, que regula funções involuntárias do corpo. Por exemplo, emoções como medo ou raiva   podem desencadear a resposta de "luta ou fuga", resultando em aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e liberação de     hormônios como a adrenalina. Essas respostas preparam o corpo para lidar com situações de ameaça ou estresse.


  2. Sistema Imunológico

  O estresse e o esgotamento emocional podem enfraquecer o sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a doenças. Estudos    indicam que emoções negativas prolongadas podem afetar a resposta imunológica, aumentando o risco de infecções e outras condições de   saúde.


3. Sistema Endócrino

Emoções influenciam a liberação de hormônios pelo sistema endócrino. Por exemplo, situações estressantes podem aumentar a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que, em níveis elevados e prolongados, pode levar a problemas como ganho de peso, hipertensão e distúrbios do sono.

4. Sistema Musculoesquelético

Emoções como ansiedade e tensão podem causar contração muscular, resultando em dores e desconfortos físicos, especialmente na região do pescoço, ombros e costas. A tensão muscular crônica pode levar a dores de cabeça tensionais e outros problemas musculoesqueléticos.

5. Sistema Cardiovascular

Sentimentos de raiva ou estresse podem provocar respostas intensas no sistema cardiovascular, como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Essas reações, se frequentes, podem elevar o risco de doenças cardíacas ao longo do tempo.

Em resumo, as emoções têm um impacto significativo em diversos sistemas do corpo humano, afetando desde a atividade cardíaca até a resposta imunológica. Compreender essas interações é essencial para promover a saúde integral e o bem-estar.





 

Por que é tão importante reconhecermos as nossas emoções?

2 fevereiro, 2025

Quando compreendemos nossas emoções, podemos ter um desenvolvimento pessoal maior e melhorar nossas interações sociais.

Então bora lá, falar um pouco sobre elas.

    A palavra emoção vem do latim "emovere" que significa mover de dentro para fora, então o nome já explica muitas coisas. A emoção é uma reação aos estímulos ambientais e cognitivos.

Reconhecer e lidar melhor com elas, nos traz diversos benefícios:

1 - AUTOCONHECIMENTO - Ao identificar nossas emoções, adquirimos uma compreensão mais profunda de nós mesmos, de nossos desejos e necessidades. Isso nos permite tomarmos decisões mais alinhadas com nossos objetivos e valores pessoais.

2 - MELHORIA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS - Reconhecer e gerenciar nossas emoções facilita a comunicação e a empatia, promovendo relacionamentos mais saudáveis e harmoniosos. A capacidade de entender e responder apropriadamente às emoções dos outros fortalece os laços sociais.

3 - DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL - A habilidade de reconhecer e regular as próprias emoções é um componente central da inteligência emocional, que está associada a uma melhor adaptação às demandas da vida e ao bem-estar psicológico.

4 - REDUÇÃO DE ESTRESSE E PREVÊNCÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE: Ao gerenciar adequadamente nossas emoções, diminuímos os níveis de estresse e ansiedade, contribuindo para uma mente mais saudável e equilibrada. Isso, por sua vez, auxilia na prevenção de problemas de saúde relacionados ao estresse.

5 - MELHORIA NO DESEMPENHO PROFISSIONAL: No ambiente de trabalho, a capacidade de lidar com as próprias emoções é valorizada, pois contribui para um ambiente mais produtivo e agradável. Profissionais com boa inteligência emocional tendem a ter melhores oportunidades de crescimento na carreira.