A Ilusão do Ano da Virada: Como Construir Metas que se Sustentam

11 dezembro, 2025

Você já reparou que, no final do ano, a maioria das pessoas faz listas de metas, planos e promessas, acreditando que o próximo ciclo será finalmente “o ano da virada”? Porém, a história costuma se repetir: janeiro começa com entusiasmo, mas dezembro termina com a mesma mistura de frustração, angústia e esperança.
Se você reconhece esse padrão, talvez este texto te ajude a entender o motivo desse ciclo de repetição e, quem sabe, até a sair dele.

Por que será que isso acontece?
Porque, no final do ano, entramos em um estado emocional de alta expectativa. Existe um desejo coletivo de renovação que mobiliza energia e imaginação, mas iniciamos janeiro dentro da mesma estrutura psíquica e comportamental do ano anterior. Ou seja, continuamos os mesmos, apenas com novos planos promissores.

Durante esse período de angústia e reflexão, escrever metas traz ao cérebro um sinal de organização, que reduz a ansiedade e traz à mente a sensação de clareza. Essa sensação causa bem-estar, pois transmite a impressão de avanço, mas é apenas uma sensação de controle, não de conclusão.

Durante o planejamento, pode ser liberada uma pequena quantidade de dopamina, que cria a ilusão de movimento e, logo em seguida, a pessoa nem dá continuidade às metas.

Abaixo seguem algumas dicas de como podemos conseguir atingir nossas metas no próximo ano.

  1. Trocar metas abstratas por identidades funcionais.
    Antes de perguntar “o que devo fazer para atingir?”, pergunte:
    Quem eu preciso me tornar para sustentar esta jornada?
    O comportamento muda quando a identidade muda.

  2. Criar rituais mínimos diários.
    O cérebro aprende por repetição e previsibilidade.

  3. Reduzir o atrito ambiental.
    O ambiente tem mais força que a motivação, então tente deixar tudo esquematizado para diminuir a resistência.

  4. Estabeleça metas com contorno emocional.
    Pergunte-se:
    – Qual frustração essa meta exige que eu tolere?
    – Onde eu costumo desistir?
    – Quais mecanismos de defesa podem surgir durante o processo?
    Antecipar o desconforto reduz o impacto dele.

  5. Planejar para o pior cenário, não para o cenário perfeito.
    Dessa forma, você se sente preparado para situações difíceis que possam surgir.

  6. Monitorar progresso, não perfeição.
    A mente desiste quando percebe a distância entre o ideal e a realidade.
    Acompanhe as pequenas vitórias. Progresso, mesmo que pequeno, gera dopamina, serotonina, endorfina e oxitocina. Já o perfeccionismo ativa o modo ameaça do cérebro, gerando cortisol e podendo paralisar a ação.

  7. Revisar crenças que sustentam o sabotamento.
    Toda meta colide com alguma crença antiga. Então pergunte:
    – O que em mim ganha quando eu não mudo?
    – Do que estou me protegendo ao me sabotar?
    Ter essa consciência resignifica o ciclo.

  8. Criar contratos consigo mesmo.
    Se possível, até por escrito, com cláusulas e data para o término.
    Revisite esse contrato de tempos em tempos e veja se precisa incluir ou retirar algo.

  9. Trabalhe com ciclos curtos.
    Tente começar com metas de até um mês e depois aumente para três meses e assim por diante.

  10. Registre seu progresso.
    Registrar seus avanços reforça, no cérebro, a certeza de que você é capaz.

Criar uma vida alinhada às suas metas é um processo, não um evento. E, muitas vezes, fazer isso sozinho/a é pesado demais. Se você percebe que precisa de apoio para sustentar esse novo ciclo, estou aqui para caminhar com você.

Agende sua sessão. Vamos construir, juntos, um próximo ano possível  e verdadeiro.


                                                                                                  


                                                            

 

A Semente que Achava que Era Pedra!

31 outubro, 2025



Quantas vezes achamos que somos pedras e esquecemos que somos sementes?

Sementes prontas para florir, mas que, por medo ou influência, esquecem da própria natureza.

Existe uma metáfora que ilustra bem isso:

A Metáfora da Semente que Achava que Era Pedra

Era uma vez uma semente que, por muito tempo, acreditou ser uma pedra.
“Pedras não crescem, não florescem, não mudam”, pensava ela.
E assim, ficava imóvel, enterrada no solo, convencida de sua própria imutabilidade.

Por acreditar que era pedra, a semente não buscava água, não se estendia em direção ao sol, não tentava romper a superfície.

Até que um dia, após uma chuva generosa, algo inesperado aconteceu: um pequeno broto começou a se formar.
A “pedra” percebeu, então, que sempre havia sido uma semente com todo o potencial para crescer, florescer e dar frutos.

As nossas crenças limitantes são como essa confusão de identidade: fazem-nos esquecer nossa verdadeira natureza e o potencial que sempre existiu em nós.


Quando acreditamos que somos pedras

Durante a vida, quantas pessoas nos fazem acreditar que somos pedras?

São aquelas que minimizam nossas dores, desvalorizam nossas conquistas ou dizem que “somos assim porque está no sangue”, “é de família”, “não tem o que ser feito”.

“Ah, ela é burra porque foi mal em matemática.”
“Poxa, ela não consegue aprender nada, puxou a mãe.”
“Ah, ela chora muito, é fraca.”

Essas frases, quando repetidas, moldam identidades e confinam potenciais.
Começam a nos colocar dentro de caixas pequenas e escuras, e passamos a acreditar que aquele é o nosso lugar.

E assim, vamos vivendo:
com vergonha de falar em público,
achando que não somos capazes,
engolindo o choro,
mantendo posturas agressivas para parecer fortes,
tentando nos encaixar em padrões, mesmo que isso doa.

Aceitamos relacionamentos difíceis, porque aprendemos que devemos ser escolhidos e suportar.


O nome disso é crença limitante

Essas crenças são impostas pelos outros e nós acreditamos.
Mas esquecemos que cada pessoa tem a própria história, suas dores e limitações.

Quando alguém tenta nos moldar, na verdade, fala mais sobre si mesmo do que sobre nós.


O despertar da semente

Quando começamos a entender isso e decidimos mudar, ressignificar esses padrões, buscamos compreender em qual parte da vida essa crença foi estabelecida.

E então, o mundo começa a ter mais cor.
Vamos ficando mais empoderados, mais livres.

Descobrimos que somos mais e que podemos ser mais ainda.
Que o céu é o limite para tudo o que podemos ser.

Nossos relacionamentos se tornam mais saudáveis, porque passamos a nos tratar melhor.
Damos uma chance para quem realmente somos.
Deixamos de sentir culpa por quem fomos e aprendemos a nos orgulhar de quem estamos nos tornando.


O caminho em espiral

Claro, esse caminho não é linear.
Ele é um caminho em espiral.

Voltamos a alguns lugares de dor, mas com outra consciência.
Não é retrocesso é amadurecimento.
Passamos novamente por esses lugares, só que mais fortes, mais inteiros, com outro olhar.


Tudo começa com uma escolha

Tudo começa com a escolha de querer ser melhor.

E também com coragem a coragem de abrir mão de pessoas, lugares e padrões que já não cabem mais.
De revisitar dores antigas, de admitir as vezes em que fomos coniventes por medo ou comodidade.

De reconhecer que não somos apenas vítimas  e que deixar de ser vítima é assumir a responsabilidade de nos dar uma vida melhor.


 Que essa metáfora lembre você do que realmente é:
não pedra, mas semente, viva, pulsante, capaz de romper a terra e florescer de novo.


Por Juliana Oliveira — neuropsicanalista que acredita que mudar o olhar é o primeiro passo para mudar o mundo.


Insta: @juh.oliveirapsi

Linkedin: Juliana Oliveira

Face: Entre a Psicanálise e a Neurociências.




 

Da Escuridão à Luz: o valor dos processos na psique e no cérebro.

19 agosto, 2025

   

(Imagem: Foto tirada por mim no túnel que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo. No lado em que estou fica a cidade de Passa Quatro, em Minas; na luz do final do túnel, está a cidade de Cruzeiro, em São Paulo. Inaugurado por D. Pedro II, este túnel foi palco da batalha mais sangrenta da Revolução de 1932. Um lugar incrível, cheio de história e reflexões.)


Quando começamos um processo psicanalítico, é como entrar em um túnel pela primeira vez.
A luz está lá no final, mas não sabemos o caminho até a saída.

Na psicanálise, nada acontece de forma repentina. Freud já falava dos processos primário e secundário:
— o primeiro, guiado pelo desejo imediato, pelo sonho, pela pulsão que busca satisfação;
— o segundo, guiado pela razão, pela realidade, pelo adiamento e elaboração.

O sujeito só se transforma quando se permite atravessar esses processos internos, que se repetem, resistem, voltam e se reconstroem.

Na clínica, isso aparece de forma quase invisível: no silêncio de uma sessão, numa palavra que retorna, num sonho que se repete. É lento, é trabalhoso. E é justamente essa lentidão que dá consistência à mudança. O inconsciente não se apressa: ele se revela em fragmentos, em lapsos, em associações que parecem desconexas.

O processo analítico é, portanto, uma travessia: o túnel onde a escuridão assusta, mas é justamente ali que os olhos se acostumam e começam a enxergar.

A neurociência, por outro lado, nos mostra que o cérebro também vive de processos.
As sinapses não se reorganizam em um dia. É na repetição, na constância, no treino da fala e do pensamento que novas redes neurais se formam.

Cada memória reativada na análise passa por um fenômeno chamado reconsolidação: ela é reaberta, reprocessada e pode ser ressignificada. É como se o cérebro dissesse: “dado antigo, mas com atualização disponível”.

Aos poucos, o sistema límbico, que guarda as marcas emocionais, encontra novos caminhos de diálogo com o córtex pré-frontal, que organiza, nomeia e planeja.
Assim, a emoção antes bruta ganha contorno, palavra, sentido.

Psicanálise e neurociência se encontram justamente nesse ponto:

  • Uma fala analisada, repetida e elaborada abre espaço simbólico no inconsciente.

  • Essa mesma fala modifica circuitos neurais, fortalecendo novas rotas de pensamento e regulando emoções.

É por isso que, tanto na clínica quanto no cérebro, o processo é lei da vida.
Não é sobre atalhos. Não é sobre “resolver rápido”.
É sobre suportar o túnel escuro até que a luz surja adiante.

A mudança acontece a cada sessão, a cada passo, a cada respiro. Algo se reorganiza dentro e fora.
O inconsciente se desloca, o cérebro se reconecta, e o sujeito se reinventa.

No fim, tanto na psicanálise quanto na neurociência, o processo não é um detalhe: é o próprio caminho da transformação.
A luz no fim do túnel e a linha de chegada não são milagres: são a prova de que houve travessia, de que houve coragem, de que houve vida sustentada passo a passo.

Juliana Oliveira - Psicanalista e Neuropsicanalista.


Instagram: @juh.oliveirapsi

Linkedin: https://www.linkedin.com/in/juliana-oliveira-pereira-427aa5361/

 

Hiperconectados nas telas, mas cada vez mais desconectados das pessoas.

19 julho, 2025

     

Vivemos num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), que nos empurra para a compulsão por produtividade e ocupação. Ser multitarefa virou regra. A todo instante, somos chamados a responder mensagens rapidamente, a manter presença nas redes, a sermos ágeis em e-mails e entregas. Mas será que essa tecnologia que tanto nos conecta também não tem nos afastado do essencial?

Como neuropsicanalista, percebo a hiperconexão como uma sedutora ilusão de pertencimento. Ela oferece o conforto imediato da interação digital, enquanto esvazia nossa individualidade, empobrece os laços humanos e nos desconecta de nós mesmos. Por trás das telas, cresce o silêncio emocional  e com ele, o aumento de transtornos psíquicos, a solidão disfarçada de conexão e o afastamento das relações verdadeiramente nutritivas.

Estamos vivendo um desequilíbrio: de um lado, a nossa estrutura biológica e psíquica que é ancestral, sensível, relacional; de outro, um mundo que exige aceleração constante, presença digital e performance emocionalmente estéril. Será que essa conta vai fechar?

A ausência emocional parece ser a nova estética dos tempos modernos. Mas não fomos feitos para isso. Somos seres tribais, moldados pela convivência e pelas trocas humanas. Nosso cérebro possui neurônios-espelho, responsáveis pela empatia e pela aprendizagem emocional. Aprendemos a amar, a conviver e a sentir a partir do outro.

É preciso lembrar: sem vínculos, não há desenvolvimento saudável. Sem presença, não há cura.
Estamos diante de uma revolução silenciosa  e talvez o verdadeiro ato de resistência seja desacelerar, escutar, se olhar… e se permitir sentir.






 

Tripé da psicanálise!

11 abril, 2025

O tripé da psicanálise é a base da formação de um psicanalista. Ele se sustenta em três pilares essenciais:

  1. Análise Pessoal – O próprio analista deve passar por análise para compreender seus processos inconscientes e evitar que suas questões pessoais interfiram na escuta do paciente.

  2. Estudo Teórico – A formação exige o estudo aprofundado das obras de Freud e outros teóricos da psicanálise, além de leituras complementares sobre psicopatologia, filosofia e neurociência.

  3. Supervisão Clínica – O trabalho do analista em formação deve ser acompanhado por um psicanalista experiente, que orienta e ajuda a compreender as dinâmicas dos casos clínicos.

Esse tripé garante que o psicanalista esteja preparado tecnicamente e emocionalmente para atuar. 

 

Você sabe como nossas emoções atuam no nosso corpo?

8 fevereiro, 2025


     

   As emoções desempenham um papel crucial no funcionamento do corpo humano, influenciando diversos sistemas fisiológicos. A seguir,           apresento algumas maneiras pelas quais as emoções afetam o organismo.

   1. Sistema Nervoso Autônomo

     As emoções ativam o sistema nervoso autônomo, que regula funções involuntárias do corpo. Por exemplo, emoções como medo ou raiva   podem desencadear a resposta de "luta ou fuga", resultando em aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e liberação de     hormônios como a adrenalina. Essas respostas preparam o corpo para lidar com situações de ameaça ou estresse.


  2. Sistema Imunológico

  O estresse e o esgotamento emocional podem enfraquecer o sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a doenças. Estudos    indicam que emoções negativas prolongadas podem afetar a resposta imunológica, aumentando o risco de infecções e outras condições de   saúde.


3. Sistema Endócrino

Emoções influenciam a liberação de hormônios pelo sistema endócrino. Por exemplo, situações estressantes podem aumentar a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que, em níveis elevados e prolongados, pode levar a problemas como ganho de peso, hipertensão e distúrbios do sono.

4. Sistema Musculoesquelético

Emoções como ansiedade e tensão podem causar contração muscular, resultando em dores e desconfortos físicos, especialmente na região do pescoço, ombros e costas. A tensão muscular crônica pode levar a dores de cabeça tensionais e outros problemas musculoesqueléticos.

5. Sistema Cardiovascular

Sentimentos de raiva ou estresse podem provocar respostas intensas no sistema cardiovascular, como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Essas reações, se frequentes, podem elevar o risco de doenças cardíacas ao longo do tempo.

Em resumo, as emoções têm um impacto significativo em diversos sistemas do corpo humano, afetando desde a atividade cardíaca até a resposta imunológica. Compreender essas interações é essencial para promover a saúde integral e o bem-estar.





 

Por que é tão importante reconhecermos as nossas emoções?

2 fevereiro, 2025

Quando compreendemos nossas emoções, podemos ter um desenvolvimento pessoal maior e melhorar nossas interações sociais.

Então bora lá, falar um pouco sobre elas.

    A palavra emoção vem do latim "emovere" que significa mover de dentro para fora, então o nome já explica muitas coisas. A emoção é uma reação aos estímulos ambientais e cognitivos.

Reconhecer e lidar melhor com elas, nos traz diversos benefícios:

1 - AUTOCONHECIMENTO - Ao identificar nossas emoções, adquirimos uma compreensão mais profunda de nós mesmos, de nossos desejos e necessidades. Isso nos permite tomarmos decisões mais alinhadas com nossos objetivos e valores pessoais.

2 - MELHORIA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS - Reconhecer e gerenciar nossas emoções facilita a comunicação e a empatia, promovendo relacionamentos mais saudáveis e harmoniosos. A capacidade de entender e responder apropriadamente às emoções dos outros fortalece os laços sociais.

3 - DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL - A habilidade de reconhecer e regular as próprias emoções é um componente central da inteligência emocional, que está associada a uma melhor adaptação às demandas da vida e ao bem-estar psicológico.

4 - REDUÇÃO DE ESTRESSE E PREVÊNCÃO DE PROBLEMAS DE SAÚDE: Ao gerenciar adequadamente nossas emoções, diminuímos os níveis de estresse e ansiedade, contribuindo para uma mente mais saudável e equilibrada. Isso, por sua vez, auxilia na prevenção de problemas de saúde relacionados ao estresse.

5 - MELHORIA NO DESEMPENHO PROFISSIONAL: No ambiente de trabalho, a capacidade de lidar com as próprias emoções é valorizada, pois contribui para um ambiente mais produtivo e agradável. Profissionais com boa inteligência emocional tendem a ter melhores oportunidades de crescimento na carreira.