Hiperconectados nas telas, mas cada vez mais desconectados das pessoas.
Vivemos num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), que nos empurra para a compulsão por produtividade e ocupação. Ser multitarefa virou regra. A todo instante, somos chamados a responder mensagens rapidamente, a manter presença nas redes, a sermos ágeis em e-mails e entregas. Mas será que essa tecnologia que tanto nos conecta também não tem nos afastado do essencial?
Como neuropsicanalista, percebo a hiperconexão como uma sedutora ilusão de pertencimento. Ela oferece o conforto imediato da interação digital, enquanto esvazia nossa individualidade, empobrece os laços humanos e nos desconecta de nós mesmos. Por trás das telas, cresce o silêncio emocional e com ele, o aumento de transtornos psíquicos, a solidão disfarçada de conexão e o afastamento das relações verdadeiramente nutritivas.
Estamos vivendo um desequilíbrio: de um lado, a nossa estrutura biológica e psíquica que é ancestral, sensível, relacional; de outro, um mundo que exige aceleração constante, presença digital e performance emocionalmente estéril. Será que essa conta vai fechar?
A ausência emocional parece ser a nova estética dos tempos modernos. Mas não fomos feitos para isso. Somos seres tribais, moldados pela convivência e pelas trocas humanas. Nosso cérebro possui neurônios-espelho, responsáveis pela empatia e pela aprendizagem emocional. Aprendemos a amar, a conviver e a sentir a partir do outro.
É preciso lembrar: sem vínculos, não há desenvolvimento saudável. Sem presença, não há cura.
Estamos diante de uma revolução silenciosa e talvez o verdadeiro ato de resistência seja desacelerar, escutar, se olhar… e se permitir sentir.